Familiares, amigos e fãs começam a se despedir de Ariano Suassuna
Velório do escritor ocorre no Palácio do Campo das Princesas, no Recife.
Sepultamento está previsto para esta quinta, no Cemitério Morada da Paz.
Caixão com corpo do escritor chegou à sede do governo estadual por volta das 22h55 (Foto: Vitor Tavares/G1)
Além dos familiares, muitos vestidos com a camisa do Sport Club do Recife, time de coração de Ariano, políticos estiveram na cerimônia realizada pelo frei franciscano Aloísio Fragoso. O ex-governador de Pernambuco e candidato à presidência, Eduardo Campos; o atual governador do estado, João Lyra Neto, e o candidato ao Senado e ex-ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, além de parentes carregaram o caixão para o hall principal do Palácio. Ariano foi secretário de Cultura de Pernambuco e também assessor especial do governo de Campos.
Para a celebração familiar, o caixão foi coberto com as bandeiras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde ele foi professor do curso de Letras, do Estado de Pernambuco e do Brasil. Durante a celebração religiosa, frei Aloísio relembrou a trajetória do dramaturgo e destacou a religiosidade de Ariano. "Lá em cima, Nossa Senhora pedirá que ele represente a peça O Auto da Compadecida", afirmou.
Corpo de Ariano Suassuna chega ao Palácio do Campo das Princesas, Centro do Recife (Foto: Vitor Tavares/G1)
Na cerimônia, Germana Suassuna, neta de Ariano, leu um texto em
homenagem ao avô. Ela destacou que o escritor viveu os últimos dias da
forma que queria, no palco. Na última sexta-feira, ele apresentou sua
última aula-espetáculo, no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no
Agreste pernambucano. Germana também destacou o apoio que todos os
familiares darão a Zélia Suassuna, agora viúva de Ariano. "Meu avô foi o
homem mais feliz do lado dela. E ela também foi a mulher mais feliz.
[...] Meu avô é simplesmente imortal", disse.Na porta do Palácio, a fila de admiradores, que começou a se formar por volta das 23h, tinha muitos amigos e também fãs da figura pública de Ariano. O policial George Nascimento e sua mãe, Nelma Cristina, encontraram o escritor apenas uma vez na vida, mas guardaram o momento da lembrança. "Foi numa igreja. Vou sempre lembrar da pessoa que ele foi, um exemplo de ser humano", comentou Nelma.
Amiga da família Suassuna e vizinha de rua de Rita Suassuna, mãe de Ariano, a matemática Jeanine Japiassu relembrou os tempos de adolescência. "Conheço ele desde os 13 anos de idade, quando ele já era professor da minha irmã. Ele é e sempre será um ícone, uma pessoa que fez arte, criou movimentos como nenhuma outra aqui no Brasil. Agora, ele deixa um vazio”.
A previsão é que o velório aconteça durante toda o dia e só termine às 15h desta quinta (24). O corpo será enterrado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, Grande Recife, por volta das 16h.
Caixão
foi coberto com as bandeiras da Universidade Federal de Pernambuco,
onde ele foi professor do curso de Letras, do Estado de Pernambuco e do
Brasil (Foto: Vitor Tavares/G1)
Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita.
Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.
Na noite de segunda-feira (21), Ariano Suassuna deu entrada no hospital e foi operado após o diagnóstico do AVC. A cirurgia foi para a colocação de dois drenos, na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça, o quadro dele se agravou, devido a "queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada", conforme foi informado em boletim.
Ativo até o fim
Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo.
Salão principal do Palácio do Campo das Princesas recebe parentes, amigos e admiradores do escritor (Foto: Vitor Tavares/G1)
Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o
Galo da Madrugada. Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do
Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu
acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o
carnaval”, disse, na ocasião.No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.
Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno. No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.
Obra
A primeira peça do escritor, "Uma mulher vestida de sol", ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, "O Auto da Compadecida", em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
Na
aula-espetáculo, Ariano misturava causos, informações sobre elementos
da cultura popular nordestina (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura
de Pernambuco)
O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d'A Pedra do
Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser
produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por
Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de
"A pedra do reino".Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.
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