Carioca Jana Mello vira sensação na cena burlesca da Alemanha

Ela também é stylist e artista fetichista
Jana Mello gosta de se comparar à fênix, a ave mitológica que renasce das próprias cinzas. A carioca, de 34 anos, usa seus dramas particulares como combustível para a arte. Em sua estreia no mundo burlesco, em dezembro, recorreu ao seu HD interno para montar o show “The Phoenix Rising”, apresentado no clube Toast Hawaii, em Berlim. Era a história de sua vida narrada de uma forma “forte, sexy e hipnotizante”. A plateia ficou atônita.

— Foi muito visceral. Existia verdade ali. Minha trajetória não foi fácil, passei por muitos traumas, como o assassinato do meu grande amor. Mas sou grata ao universo, pois isso me deu sabedoria e coragem para ser quem eu sou — conta Jana, que estudou na Berlin Burlesque Academy.

No espetáculo de estreia, que também foi sua formatura, a artista burlesca assumiu a persona de Lilith D'Lust. O primeiro nome vem da teoria de que Adão teve outra mulher antes de Eva, Lilith.

— Mas ela não aceitou ser subordinada e submissa a ele, então se rebelou e deixou o Jardim do Éden. Minha personagem não pertence a esta dimensão. É um sonho, fantasia, surrealismo. É uma deusa — explica a carioca, destacando que seu trabalho não segue a linha de Dita Von Teese, referência no segmento. — Dita é a nossa rainha master, mas faço algo único, com uma pegada vintage, futurista, glam, punk e espiritual. Minha musa inspiradora, de fato, é Grace Jones. Admiro quem traz algo totalmente novo, inesperado, questiona valores e contribui para a evolução da sociedade. É isso que busco atingir com minha arte.


A ideia de virar burlesca surgiu enquanto Jana era performer fetichista na casa noturna Cirque le Soir, em Londres, onde também atuava como stylist — ela chegou trabalhar com Rihanna e produzir fotos para a revista “i-D”:

— Por meio de um amigo brasileiro (o diretor criativo Leo Belicha), descobri meu lado performer e minha paixão pelo palco na capital inglesa, em 2012. Enriqueci culturalmente e expandi a criatividade; a cidade, porém, cansa. Era too much e estressante para mim. Não era meu lugar. E eu não conseguia ter conforto financeiro sendo underground.

Queria dar um passo além e enxerguei no universo burlesco a oportunidade. É uma carreira mais sólida, bem remunerada e com perspectiva de futuro. Há dois anos, me mudei para Berlim com a cara e a coragem, para me desenvolver na profissão.


Jana Mello também é stylist e artista
fetichista (Fotos: Divulgação)

E pensar que Jana, nascida e criada em Santa Teresa (ela trocou o bairro pelo Leme aos 11), pretendia ser advogada.

— Larguei a faculdade de Direito no sexto período e fui cursar Moda (primeiro, na Cândido Mendes; depois, fez uma pós-graduação na Central Saint Martins, em Londres). Meus pais nunca me “mimaram” financeiramente, porém me deram a melhor educação possível — diz ela, filha do mestre de capoeira Gil Velho, do Grupo Senzala, e de Fátima Mello, historiadora que sempre lutou pelos direitos humanos.

— Minha família é politizada, estive, por exemplo, em muitas passeatas do PT com mamãe. Eles não entendem bem o que é ser burlesca, não têm noção da grandiosidade da cena. No entanto, apoiam a minha arte.

Solteira (“Mas não sozinha”, diverte-se), a carioca quer ter total liberdade no momento. Coisa, aliás, que encontrou em Berlim:

— Aqui, ninguém a julga. Você pode até sair pelado se desejar.

Ligada no 220v, Jana ainda é anfitriã da Pornceptual, uma festa que, segundo ela, usa o erotismo como arma para abrir as mentes das pessoas.

— O evento mostra que a pornografia pode ser artística, respeitável e inclusiva.

Agora, a moça anda às voltas com seu próximo show, marcado para o dia 20 de outubro, no Berlin Burlesque Festival. Será épico.

O Globo

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